Singelo e imenso




Hoje foi-me confiado, de forma inesperada, o relógio que pertenceu ao meu avô paterno e confesso que demorei algum tempo a assimilar o acontecimento.

Este relógio é uma das minhas recordações de infância, como algo precioso e quase sagrado que o meu avô guardava na gaveta de um móvel da sala, juntamente com outros objectos de valor.

Para mim, com o deslumbramento próprio de um miúdo, este relógio era valioso como se fosse um tesouro e, ainda tenho recordações da primeira vez que a minha avó mo mostrou. Segurei-o com todo o cuidado, como se tivesse medo que ele pudesse simplesmente dissolver-se nas minhas mãos.

Depois disso, ocasionalmente, eu gostava de abrir a gaveta e pegar no relógio apenas para olhar para ele. Curiosamente, guardá-lo de volta na gaveta era sempre um momento de alívio.

Hoje, ao pegar nele, senti ainda uma réstia desse fascínio e quando girei a pequena roda para lhe dar corda, fi-lo sem grande esperança que ainda funcionasse. Para minha surpresa, os segundos voltaram a ser contados e foi como se cada "tic-tac" trouxesse de volta aquelas recordações que há muito haviam sido arrumadas também elas numa gaveta onde eu as espreitava ocasionalmente.

Comentários

São Rosas disse…
Capinta!
Eu tenho a mesma adoração por uma Scheaffer de aparo de ouro que o meu Pai me deu e que lhe tinha sido oferecida pelo Jornal do Fundão por ser correspondente muitos anos.