Tudo sobre como obter um passeio de gôndola "low cost" que é tão bom como os outros

Antes que comecem a elaborar pensamentos menos próprios a meu respeito, acerca desta minha obsessão com Itália (a propósito, ver aqui, aqui, aqui e aqui) e de não ter outro assunto para postar senão este, deixem-me que vos diga que o faço apenas por um motivo: o Caetano está stressado. É nestas alturas que os contribuidores devem tomar as rédeas do bloguinho e, num profundo acto de coragem, valha-nos Ele, (tentar) contribuir com uma “posta” do Katano. Ora vamos lá…


Um gondoleiro aparentemente quase stressado.


Ser gondoleiro em Veneza não deve ser mesmo nada fácil. Para já, o dia começa bem cedo, mal chegam os primeiros turistas na calma da manhã, desejosos de aproveitar bem o dia. O pobre do gondoleiro, com pouco tempo para tomar o seu cappuccino (ou será que é só para turistas?) e ler o seu jornal, é forçado a fazê-lo já no seu local de trabalho. O congestionamento dos canais é frequente, o que obriga o gondoleiro a cumprir as regras de circulação tal como se de uma estrada se tratasse.

Não, não é montagem, o sinal de sentido proíbido está mesmo lá.

Aquilo são 5 pessoas dentro de uma gôndola? Bem que podiam ter arranjado mais alguém...


Faça chuva ou faça sol, lá está ele a perseguir o turista que, com a crise mundial instalada, anda ainda mais esquivo… A abordagem é uma arte trabalhada ao pormenor, desde o traje envergado com um estilo muito próprio, ao charme lançado num olhar acompanhado de um belo sorriso. Herdou dos seus antepassados a licença de gondoleiro (caso contrário, teria de a comprar por 700 mil a um milhão de euros), mas a lábia para o negócio… essa aprendeu-a com a experiência. E não há nada como umas palavras em italiano dirigidas às turistas mais incautas! – certamente foi isto que pensou o tal gondoleiro que abordei em Veneza, por mera curiosidade.

Gondoleiro de fita azul (claramente inexperiente): má postura, braços cruzados, óculos graduados e... onde é que estão as fitas pendentes? ERRADO!

Gondoleiro de fita vermelha (o expert): óculos de sol, gola levantada, mãos nos bolsos, postura elegante. CORRECTO!


Ao passar por estes genuínos espécimes, fui dominada por uma súbita questão existencial: “Quanto será que custa um passeio de gôndola?” Sem cantorias nem pôr-do-sol é claro, pois isso com certeza custaria muito mais caro. Sem papas na língua e num italiano incipiente, depois de ter captado este instantâneo em que o dito tentava uma aproximação à ragazza que passava, abordei o gondoleiro da fita vermelha (ups! inverti os papéis…) com a pertinente pergunta.

Após um sorriso motivado pela perspectiva de negócio, lançou, sob o olhar atento do companheiro: “90 euros”. Perguntei: “Por quanto tempo?” Após alguns rodeios e troca de argumentos com o companheiro, alegando que isso dependia de muitos factores, respondeu: “Cerca de 40 minutos”. Com um sincero ar de incredulidade que não fiz questão em esconder, afirmei que era caro, agradeci e virei costas.

Acompanhem-me neste pensamento: se um gondoleiro ganhar 90 euros por viagem (já sem contar que ganha quase o dobro se esta for acompanhada por uma musiquinha ao pôr-do-sol) e no final do dia tiver feito 6 viagens (o que não é muito, para a procura turística que existe), no final de uma semana laboral de 5 dias já ganhou 2700 euros. No fim do mês terá ganho mais de 12 mil euros!!

Não passaram 5 segundos, já o tinha a chamar por mim, perseguindo-me: “Signorina, signorina!”. Perguntou se a viagem era com o meu namorado, se queríamos uma viagem mais curta (logo, mais barata), blá blá blá… Mas ao reparar que eu estava em grupo, sugeriu uma viagem para 6 pessoas pela módica quantia de… 60 euros! Calculo que passear com seis pessoas numa gôndola seja uma experiência inesquecível mas, ainda que o bilhete individual custasse agora apenas 10 euros, mais uma vez recusei. Num arremate desesperado, lançou a sua última promoção: “São estudantes?” (nota-se assim tanto??) “Para estudantes, faço uma viagem para duas pessoas por 10 euros cada.”

Com uma expressão de maior espanto no rosto pois, sem qualquer interesse, havia conseguido um passeio de gôndola “low cost”, agarrei-me à promessa que havia feito ao Caetano e aos euros que me restavam para investir em souvenirs, e vim embora.


P.s. - Para terem uma noção da generosidade do senhor, 9 euros é quanto custa uma viagem de vaporetto (uma espécie de autocarro) pelo Grande Canal...

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