Veneza, a cidade flutuante (parte II)

Passeggiando...

Chegar à Praça de S. Marcos, depois de uma viagem de vaporetto (o barco que, numa cidade sem carros nem estradas, é equiparável ao autocarro) ou de gôndola (para os mais afortunados) pelo Grande Canal, é mergulhar numa atmosfera oriental única e distinta de qualquer outra parte da Europa. São inúmeros os focos apelativos desta sala de visitas da cidade, desde as esplanadas onde um dispendioso capuccino pode ser saboreado ao som de música clássica interpretada ao vivo, até aos monumentos que a preenchem: o Palácio dos Dodges (na piazzetta), o Campanile, o relógio astronómico do século XV e a basílica de S. Marcos.


Símbolo da cidade, a basílica recebeu o nome do apóstolo cujas relíquias a enriqueceram, numa rivalidade política com Roma, que guardava as relíquias de S. Pedro. Reza a lenda que as relíquias de S. Marcos foram resgatadas da Alexandria, onde estava sepultado, pelos mercadores de Veneza que a esconderam no meio de carne de porco para evitar a inspecção pelos muçulmanos. Ela é, sem dúvida, a igreja mais rica que conheci até hoje, finamente decorada no seu interior com requintados mármores, tapeteada de coloridos mosaicos e ostentando cúpulas cobertas de ouro que lhe conferem um brilho único conforme a luz do sol que é reflectida. Porém, é perturbante observar o lento afundar de toda a beleza no chão tortuoso e aluído e nas inundações que ali ocorrem com alguma frequência, tendo eu presenciado uma quando ali estive em 2006.


Os cavalos que actualmente figuram na balaustrada acima da entrada na basílica de S. Marcos são cópias dos originais que os venezianos trouxeram como troféu de guerra de Constantinopla em 1204, e que terão origem grega (séc. IV ou III a.C.) ou latina (séc. IV d.C.). Quando Napoleão conquistou a cidade também os levou para Paris como troféu de guerra mas, com melhor sorte que Constantinopla, estes foram devolvidos a Veneza.


Para conhecer a essência da Sereníssima, é preciso percorrê-la sem destino pelas ruelas estreitas e cruzando os canais de ponte em ponte. São 177 canais cruzados por 446 pontes que ligam uma cidade formada por 117 ilhas. A ponte mais famosa e uma das três que atravessam o Grande Canal é a Ponte Rialto, que tem a particularidade de fazer parte de uma zona comercial e por isso ser ladeada por estabelecimentos comerciais. Isso mesmo, em plena ponte! Aqui as máscaras e os chapéus “made in China” podem ser adquiridos a baixo preço, comparativamente ao praticado nas lojas que vendem os produtos oficiais, e há uma enorme variedade de pasta com a única finalidade de ser vendida a turistas. O ponto negativo da cidade é, sem dúvida, este “lixo turístico”.


É impressionante o número de pessoas que aqui se encontram a todo o momento, em circulação entre as margens do canal ou a tirar fotografias com o Grande Canal como fundo, uma imagem já muito conhecida.
Entre palácios, museus e cerca de uma centena de igrejas, há muito para conhecer que seria impossível relatar aqui, para além de não ser essa a finalidade desta posta. Que estes instantâneos vos deixem a curiosidade aguçada para talvez um dia partirem à descoberta da mítica cidade da laguna.

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