Por Entre Douro e Minho II - O Castro de São Lourenço

Continuando as visitas castrejas, no seguimento da nossa viagem pelo Minho, demos um pulinho ao curioso Castro de São Lourenço. Trata-se de um castro com aspectos muito interessantes e cuja ocupação se estendeu desde o séc. IV ou V a.C. até à Idade Média quando, estando este talvez já abandonado, a população aqui se refugiou e fortificou.

O Castro, com 3 linhas de muralhas, situa-se perto de Vila Chã, no concelho de Esposende, com uma vista fantástica sobre a planície que se estende desde o monte, onde se encontra o castro propriamente dito, até à beira do mar, paisagem que é dominada pela cidade de Esposende.


No topo do monte, foi construída uma capela cuja plataforma de implantação destruiu parte do castro, estando mesmo suportada em parte por uma muralha (medieval?). O Castro de São Lourenço terá sido abandonado durante o século V, depois de mais de 1.000 anos de ocupação que fizerem dele uma povoação importante, tendo sido reocupado durante o período da Reconquista Cristã. Nesta altura, por volta do séc. X, terá aqui sido edificado um "castelo" que consistiria numa fortificação circular no topo do monte à boa maneira da época.

Devido a esta ocupação extensa do castro, que no seu auge ocupou todo o monte desde a sua base, encontraram-se construções sobrepostas e vestígios de inúmeras épocas, desde a Idade do Bronze, até vestígios gregos e romanos (inclusive um tesouro). Aliás, a romanização do local não terá sido pacífica como o prova uma camada de cinzas que foi encontrada nas escavações e que data do séc. I da nossa era. A partir desta altura, o castro modificou-se drasticamente, denotando uma profunda influência romana na arquitectura e ordenamento.


Algumas das casas mais antigas do castro, as casas circulares e sub-rectangulares, foram reconstruídas e, embora o resultado não seja consensual (embora sejam mais fiáveis que as reconstruções de Briteiros), ajudam a ter uma excelente ideia de como seria o povoamento à chegada dos romanos. As casas foram construídas de forma a aproveitarem o relevo, tendo a rocha sido afeiçoada e tendo sido construídas plataformas para servir de base para as construções. Numa época mais tardia, as casas era revestidas interiormente a branco ou amarelo e tinham um rodapé em cinzento. O chão era de argila ou saibro compactado.



As casas tinham uma cobertura vegetal que, com a chegada dos romanos, foi substituída pela telha romana. Também tal como em Briteiros, as casas estavam agrupadas em núcleos familiares fechados, uma espécie de condomínio fechado dentro do castro, e o átrio desses núcleos era pavimentado com lajes, tal como as ruas pelas quais se circulava.



Parte do castro foi destruído nos anos 1950 com a construção da capela que se situa no topo e com a abertura do acesso à mesma. Ainda assim algumas construções foram assinaladas no pavimento desses acessos. As mais típicas tinham um pilar central de suporte do telhado, apoiado numa pedra que se encontra frequentemente no centro das ruínas das casas. Muitas dessas construções mostram vestígios do vestíbulo em forma de "patas de caranguejo" referido no post anterior, assim chamado pelo desenho que as ruínas sugerem.


Dentro do castro foi criado um percurso temático, com diversos painéis verticais explicativos bastante esclarecedores, que ajudam a percorrer e compreender o castro nas suas diversas fases. Embora a área visitável não seja ainda muito extensa, sobretudo se tivermos em conta as dimensões e o potencial do castro, a visita consegue ser bastante instrutiva e interessante.


Desde 1985 o castro tem sido alvo de trabalhos arqueológicos que ainda hoje decorrem. Aliás, na nossa visita, foi possível encontrar duas áreas em escavação, uma junto à primeira linha de muralha e outra um pouco afastada desta, orientada a Sudeste, que mostram que ainda há muito por revelar. Na foto acima é possível ver uma vala de escavação que trouxe à luz do dia mais uma casa circular assente sobre o substrato rochoso, juntamente com o lajeado que ficava no exterior desta.

Trata-se de um local que justifica uma visita, tanto pela componente de interesse histórico como pela componente paisagística e que promete em breve tornar-se ainda mais interessante com a conclusão do centro interpretativo actualmente em construção.

Para aqui chegar, o mais fácil é sair na A28 (Porto - Caminha) na saída para Esposende e daqui seguir na direcção de Vila Chã, seguindo as indicações.

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