PS vence mas fica com amargo de boca


O Partido Socialista foi, segundo José Sócrates, o grande vencedor da noite. Será que foi mesmo? O PS obteve 37% dos votos, ou seja, menos 8% que nas legislativas anteriores e menos 25 deputados, o que ainda assim lhe garante a maioria relativa mas... não a estabilidade governativa.


O PSD apenas obteve mais 3 deputados, tendo agora 78, muito pouco para quem pretendia colocar a sua líder como primeira-ministra e que pode ler aqui uma avaliação sobre uma certa forma de estar na oposição. O CDS foi o grande protagonista das legislativas ao ganhar mais 9 deputados, número que lhe permite afirmar-se como 3ª força política da Assembleia, à frente de um Bloco de Esquerda que, apesar de ter um resultado muito positivo (duplicou a sua representação de 8 para 16 deputados), ficou aquém das expectativas que chegou a alimentar durante a campanha e à luz da ultrapassagem pelo CDS. Por último ficou a CDU que não conseguiu cativar os desencantados com o PS e apenas subiu de 14 para 15 deputados.


Conhecidos os resultados e dado o contexto actual a pergunta é legítima: Será que este Governo vai sobreviver os normais 4 anos ou vamos ter eleições antecipadas? A única certeza é que a vida de Sócrates não vai ser nada fácil nos próximos tempos, com o Bloco e a CDU a mostrarem-se reticentes perante a ideia de uma coligação e com a particularidade de o PSD e o CDS, em conjunto, terem mais votos que o PS, o que pode promover uma concertação de direita contra os socialistas.


Sócrates tem por isso duas hipóteses: ou avança para uma coligação com o BE (menos difícil) ou com a CDU, ou em alternativa avança para uma governação feita de acordos pontuais com diferentes partidos consoante as matérias a legislar, hipótese esta que me parece mais provável. Independentemente do caminho a seguir, vamos ter a oportunidade de ver nascer um novo Sócrates, o Sócrates negociador, dialogante e... finalmente mais humilde, tanto assim que espero ouvi-lo dizer num futuro próximo que ainda está para nascer primeiro-ministro mais humilde que ele. Para já pode deduzir que os mais de 500.000 votos (Olha! Será que foram os desempregados oficiais?) que lhe fugiram são sem dúvida um aviso sério do descontentamento nacional relativamente às políticas do Governo. 


O período auto-determinístico do Governo terminou. A partir de agora ou Sócrates aprende a dialogar ou então mais vale marcar já as próximas legislativas.




Outros factos do katano!


Entre os muitos resultados do escrutínio, há um que se destaca e que é sem dúvida o grande resultado obtido pelo PTP que ultrapassou mesmo o POUS, fruto sem dúvida da superior qualidade da sua campanha televisiva e do esclarecimento das suas ideias em detrimento da genialidade das propostas do POUS que o país não compreendeu. Os trabalhistas obtiveram 4.789 votos contras os 4.320 dos adeptos da 4ª Internacional, sendo agora a 14ª força política nacional com 0,08% dos votos.


Em Vilar de Mouros tentaram poupar o dinheiro dos contribuintes e para o efeito foram colocados à disposição dos eleitores boletins de voto das últimas eleições europeias. O lapso só viria a ser detectado após 35 eleitores terem votado e, certamente, quando alguém terá chamado a atenção para o facto de o boletim mencionar o POUS mas não o PTP.


Alberto João Jardim pôs o dedo na ferida e referiu que o país tem "um problema de regime" e que não sabe como se pode resolver. Pessoalmente também não sei como resolver o problema de regime do país mas o problema de regime de Alberto João por outro lado é fácil de resolver: menos lípidos, menos hidratos de carbono e mais fibras. Ou então uma solução 2 em 1 que consiste em introduzir e fixar uma meia enrolada na boca do dirigente madeirense.


A abstenção acabou por se cifrar em 39% e tem uma explicação simples. Hoje só passou um filme de teenagers sofisticadas na TV e nenhum de animais falantes. A programação televisiva arrojada para um fim-de-semana terá pois cativado os eleitores menos motivados.

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