De Vigo a Santiago de Compostela I - Vigo, o Parque do Castro

O último fim-de-semana foi dedicado a uma incursão à Galiza, num trajecto que passou por Vigo, Santiago de Compostela e Pontevedra. Guiados por um GPS a necessitar de umas quantas sessões de terapia da fala e com um curioso critério na escolha dos percursos, saímos bem cedo de Viana do Castelo com destino a Vigo.



Vigo é uma cidade que se estende ao longo da Ria com o mesmo nome, sendo esta fechada pelas Ilhas Cies nas quais, em 2007, o jornal britânico The Guardian situou a mais bela praia do Mundo. A paisagem que se avista a partir do Parque do Castro é belíssima. Este parque, encimado por uma fortaleza abaluartada, é um sítio muito aprazível para se visitar, cheio de árvores impressionantes e recantos bem tratados. O único senão é um hotel abandonado e em estado deprimente contíguo à fortaleza.

O Parque tira o seu nome do facto de, neste monte, se situarem os vestígios do Castro de Vigo, outrora um enorme povoado que ocuparia provavelmente a totalidade do monte, um pouco à semelhança da "nossa" Citânia de Briteiros, e do qual restam apenas alguns vestígios observáveis. Aliás, os castros são omnipresentes na paisagem avistável da ria, contando-se mais de uma dezena nos montes circundantes e um também nas Ilhas Cies, ou não estivéssemos nós em pleno Noroeste Peninsular, o centro da cultura castreja.

Ora, é exactamente a parte observável do Castro de Vigo que foi aproveitada para a implementação de um Centro Interpretativo, muitíssimo interessante, vedado e videovigiado para sua protecção, mostrando o cuidado e o interesse que por aqui existe em relação a estes vestígios.



O aspecto mais atractivo do Castro de Vigo é sem dúvida a reconstituição que foi feita de algumas casas castrejas (uma habitação, um armazém e uma oficina), na sua estrutura e recheio, tendo inclusive sido reconstruida uma casa de planta quadrangular, coberta de telha romana, algo que nunca tínhamos visto ainda em reconstruções castrejas.


O detalhe foi de uma precisão notável, tendo-se chegado ao ponto de reconstituir lixeiras das casas, com cacos de cerâmica e conchas de moluscos, afinal, certamente um alimento omnipresente nestas comunidades à beira-mar.



Vários painéis interpretativos foram também colocados, em galego, castelhano e inglês, para facilitar a interpretação do castro e da sua estrutura. A visita é feita através de uma passadeira de madeira, um material de escolha feliz que se integra perfeitamente no conjunto. Na foto seguinte é possível ver a Ana mostrando os seus dotes linguísticos ao fazer questão de ler as explicações nas 3 línguas.


O pormenor das telhas também foi bem aplicado. Tratam-se de tegulae e imbrices romanas, sendo as primeiras as "placas" maiores sobre cuja junção se colocam os imbrices, as telhas de meio cano. A argila, a pedra e o colmo são materiais omnipresentes nas reconstruções, à boa maneira da época.



O interior das casas está recheado de pormenores, podendo numa delas ser visto um manequim representando um habitante do castro que está a guardar palha no segundo andar da habitação.


Já a habitação tem muitos pormenores interessantes. O vestíbulo, tipicamente designado de "patas de caranguejo", foi restaurado seguindo a hipótese de se tratar de um espaço fechado, e serve de moagem e armazenamento de cereais e farinha.


Já no interior, houve o cuidado de, antes de abrir o Castro às visitas, acender a lareira para impregnar a casa com o cheiro a fumo e cobrir as paredes de fuligem. Cria-se assim uma sensação de intimidade na visita, parecendo que, a qualquer momento, os donos da casa vão voltar. Por todo o lado encontram-se utensílios domésticos.


A oficina, de planta quadrangular e coberta por telha, portanto já com influência romana, está cheia de ferramentas, redes de pesca, peles de animais e cerâmica.

Depois de visitar estas três construções, o resto da visita ao castro sabe a pouco pelo que talvez tivesse sido preferível visitá-las em último. Seja como for, para quem quiser compreender a cultura castreja, poderá e deverá visitar o Castro de Vigo.

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