Quando a promessa de brevidade corre mal

Não sei o que é pior de ter de conviver com obras no prédio, se a poeira que entra por tudo o que é frincha e dá outra tonalidade ao interior do apartamento ou se as sonoridades que me fazem acordar todos os dias com a sensação que acabei de acordar num bairro problemático de Fallujah, o que, felizmente, é pouco depois desmentido pelo inconfundível som de uma rádio local. O único senão é o volume de som que é aplicado ao rádio, indiferente ao facto de a estação em causa estar mal sintonizada.

Geralmente, aquilo que realmente chateia nas obras são os cínicos papéis afixados um pouco por todo o lado e que, invariavelmente, contém todos a mesma promessa que as obras irão decorrer com a maior brevidade possível. Isto levanta logo à partida um mar de interrogações... Que métrica é que podemos afinal usar para saber se as obras decorreram com a maior brevidade possível? Como é que podemos ter a certeza que aquelas obras, que duraram 5 semanas, não poderiam ter sido realizadas em apenas 5 dias? Será que na fachada de Santa Engrácia também esteve um cartaz a prometer brevidade durante 284 anos? Este tipo de comunicado é de facto um escudo protector tremendo para qualquer empreiteiro e que retira qualquer legitimidade de reclamação a quem vê a sua rotina alterada pelas obras.

Contudo, no caso que aqui é ilustrado, alguém cometeu o erro terrível de afixar a data de duração prevista de um inevitável corte de água, situando-o em 2 dias... É óbvio que o corte acabou por demorar 4 dias. De forma oportuna e implacável, um cidadão indignado, cuja identidade desconhecemos em absoluto, resolveu conferir interactividade aos avisos, dando expressão ao que lhe ia na alma naquele que havia sido afixado no elevador do prédio (que já anteriormente aqui mereceu um artigo).

Inexplicavelmente, o aviso viria a desaparecer pouco tempo depois, antes que alguém tivesse tido sequer oportunidade de elogiar a sua originalidade na adopção muito personalizada do Novo Acordo Ortográfico...

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