25 de Abril, 36 anos depois



"Só saberá o que é a liberdade no dia em que a perder"

Passados 36 anos desde a revolução dos cravos, sinto que a sociedade se vai distanciando progressivamente dos valores e do significado que teve o 25 de Abril para Portugal, e não apenas temporalmente. Salgueiro Maia, Zeca Afonso e Marcello Caetano são cada vez mais ilustres desconhecidos, enquanto Salazar -imagine-se!- consegue ser eleito o maior de todos os portugueses em concursos televisivos, ao mesmo tempo que vai sendo evocado como o remédio que curaria todos os problemas sociais se por obra e graça do Espírito Santo regressasse do túmulo.

E se em vez de um "novo Salazar", os pais assumissem a sua efectiva responsabilidade educativa na família em vez de a descartarem, as instituições fossem tão ávidas de rigor e de trabalho como são a premiar a incompetência e o Estado fomentasse realmente o trabalho e o progresso em vez de, como assistimos actualmente, permitir que haja cidadãos que se reformem aos 18 anos?

Durante quase 50 anos, a opressão silenciou as vozes dos descontentes, ao mesmo tempo que usava o desterro, a prisão e a morte como instrumentos primordiais para se perpetuar. Hoje, essas mesmas vozes são silenciadas pelo desprezo e pela ignorância de uma sociedade que vive do imediatismo e que considera a liberdade como algo tão naturalmente seu por direito, que não consegue conceber uma época em que esta era negada, nem o que foi preciso fazer para a recuperar. Assiste-se, por outro lado e com uma facilidade incrível, à subversão dos termos "liberdade" e "liberdade de expressão", frequentemente usados para descrever algo mais próximo da libertinagem e da falta de respeito pelo próximo. De fora ficam outros dois conceitos fundamentais e indissociáveis dos anteriores: a responsabilidade e o respeito pelo próximo.

Deste lado, vou continuar ano após ano a recordar e evocar a Revolução dos Cravos, vou continuar a arrepiar-me ao som de Grândola Vila Morena e, sem dúvida, continuarei a ser inteiramente grato aos Heróis de Abril que puseram fim à longa noite do silêncio e a transmitir esse sentimento aos que depois de mim vierem.

25 de Abril Sempre!

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