Pelo Parque Natural da Peneda-Gerês

No desafio que aqui lancei acerca do sorriso misterioso, apesar das respostas todas elas perfeitamente coerentes e cabíveis, o único que acertou foi mesmo o Xamane (e a Vandinha no Facebook). Efectivamente trata-se do peculiar pelourinho do Soajo, um pelourinho de características únicas, possivelmente datado do século XVI ou XVII, e situado em frente ao antigo edifício da Câmara, recordação do antigo concelho extinto no século XIX.

Mas o pelourinho não é o único ponto de interesse da vila e nem tão pouco o Soajo foi o único local que visitámos no Sábado, na nossa deambulação pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, enquanto a chuva e o granizo o permitiram.

A entrada no PNPG fez-se pela bonita e pacata vila de Arcos de Valdevez, famosa pela "justa" em que os cavaleiros de Afonso Henriques venceram os leoneses aqui por perto entre 1137 e 1140. A vila é relativamente pequena e vale pela paisagem que da zona da Igreja Matriz se avista, assim como pelo espaço junto ao rio Vez que permite um belo passeio e imagens muito interessantes, algo que foi possível apreciar após cumprir a quota normal de cafeína para aquela altura do dia.




De Valdevez, prosseguimos para o Mezio e para uma das Portas do PNPG. Este conceito de "Portas" é extremamente interessante uma vez que permite aos visitantes encontrar centros interpretativos e informativos nos principais acessos ao PNPG, tendo por isso a possibilidade de saber de antemão aquilo que pode ver e o que de mais típico pode encontrar nas diferentes zonas do parque.

O Mezio é também uma das áreas do Parque onde se concentram bastantes monumentos megalíticos, neste caso Antas, todos eles perfeitamente assinalados.


Contudo, visita que se preze ao PNPG inclui o avistamento do genuíno gado bovino de raça Barrosã e, já no Soajo, concretizou-se. Os espécimes avistados demonstraram, contudo, uma certa sobranceria e talvez até algum desprezo, pelo que não foi fácil encontrar uma pose minimamente decente que merecesse ser fotografada, apesar das tentativas. Eis o melhor que se conseguiu.


Como já referi anteriormente, o Soajo não é só peculiar pelo seu pelourinho mas também pelos vários espigueiros que aqui se encontram. Ir ao Soajo e não visitar os espigueiros comunitários é imperdoável! Trata-se de um núcleo de 24, sendo o mais antigo datado de 1782, construído sobre um enorme afloramento granítico.

A foto que se segue mostra 2 espigueiros.


A foto seguinte mostra 7 espigueiros.


Finalmente, a foto que se segue mostra um certo número de espigueiros.


Saindo do Soajo, dirigimo-nos a Lindoso, fazendo apenas um pequeno desvio pela aldeia de Ermelo onde a Igreja Matriz e as ruínas que a rodeiam, são o testemunho do mosteiro da Ordem de Císter que outrora se ergueu. Um dos ex-libris da aldeia é contudo a famosa laranja do Ermelo que, pelo que nos foi dito na Porta do Mezio, foi incluída numa lista de excelência da organização italiana Slow Food Foundation for Biodiversity (expressão italiana extremamente parecida com o inglês). Tendo reagido com alguma indiferença pelo facto de as laranjas não serem propriamente um dos meus alimentos favoritos, a diligente funcionária não desarmou e aproveitou para me informar que a Broa de Milho de Arcos de Valdevez também havia sido incluída na lista. Infelizmente, Arcos já ficara para trás e, no restante da viagem, não foi possível encontrar broas à venda, isto apesar da promessa de "mais à frente encontramos de certeza!".

No Ermelo foi possível ainda assim obter uma laranja à custa de mil perigos e improváveis acrobacias, fruto que, pelos vistos, acabou por se perder na viagem...


Já no Lindoso, mais uma vez encontrámos o castelo fechado, o que parece ser nossa sina em alguns castelos. Ficamos pois pacientemente à espera (tal como as dezenas de turistas que por ali deambulavam) que o castelo fique finalmente aberto ao público, assim como a Porta de Lindoso cuja instalação neste local está (dizem) actualmente em curso.

Houve apesar de tudo oportunidade para visitar o núcleo local de espigueiros comunitários (cerca de 60 dos séculos XVII e XVIII), com uma interessante eira lajeada. Antes de verem as fotos seguintes, que mostram um certo número de espigueiros, vale a pena ver esta foto)





Ora, não bastando a desilusão relativamente à broa de Arcos de Valdevez, foi precisamente no momento da visita a Lindoso que a meteorologia se tornou desfavorável, tanto quanto um aguaceiro seguido de uma saraivada de granizo pode ser.

Decidimos por isso ir a Espanha verificar se o clima era mais favorável mas, tendo verificado que as coisas estavam tão mal ou pior que do lado português da fronteira, decidimos regressar, tendo reentrado pela fronteira da Portela do Homem.

Dali, continuámos o percurso até à Albufeira da Caniçada e depois para Norte, em direcção a Rio Caldo. Ao passar por esta localidade, julguei avistar uma broa de Arcos de Valdevez numa de várias barraquinhas pelo que optámos por fazer uma paragem. Infelizmente, uma súbita chuva torrencial levou-nos a procurar abrigo.

Valeu-nos que São Bento tinha a porta aberta e aproveitámos por isso para visitar a igreja local onde se venera este santo capaz de interceder quando nos deparamos com uma centopeia. Há aqui mais respeito santo venerado, apesar de tudo, do que em Santiago de Compostela pois ninguém aqui se presta a abraçar o santo, acessível também ele através de uma escadaria, ao contrário do que sucede nessa cidade galega.



Desfeita a ilusão -afinal não se tratava de uma broa de Arcos de Valdevez- optámos por merendar um "panike" de chocolate local num estabelecimento forrado a bandeiras do Vitória de Guimarães e onde julgámos perceber ainda um certo ambiente pesado devido provavelmente aos penalties do dia anterior no jogo com o Sp. Braga.

Seguimos depois para Norte, até ao Campo do Gerês, onde, junto à Porta local do PNPG, se encontra um cruzeiro construído pelo reaproveitamento de um dos muitos marcos miliários da via romana da Geira. Este é dedicado ao imperador Décio, sendo portanto do final do século III, e assinala a distância de 27 milhas (mil passos) até Braga (M P XXVII).




Atravessando a albufeira de Vilarinho das Furnas, numa paisagem que, apesar de envolta em nevoeiro, ainda foi revelando alguns belos cenários, continuámos por uma estrada estreitíssima em direcção à localidade de Entre-Ambos-Os-Rios que é uma localidade que se situa entre dois rios. Pelo caminho, a passagem pelas aldeias de Brufe e Germil deixou água na boca e vontade de regressar, dada a rusticidade das construções e os socalcos que se estende a perder de vista (ou pelo menos até onde o nevoeiro deixava).


Já com o dia a desvanecer-se, chegou a hora de regressar, com uma paragem em Ponte de Lima para provar uma bela Francesinha e recusar um convite para assistir à tradicional Queima do Judas.

Ficou a satisfação de um excelente passeio (apesar da chuva) e a persistência de um enigma intrigante: afinal, a que saberá a broa de Arcos de Valdevez?

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