Tirar o Cartão do Cidadão pode ser uma jornada de auto-descoberta


Não querendo de forma alguma parecer paranóico, tenho a sensação que a Administração Central é como um polvo conspirativo que investe contra mim com cada um dos seus tentáculos, seja através das Finanças, com os seus diligentes funcionários de indumentária peculiar, da Segurança Social, que decide numa migração de sistemas fazer desaparecer 3 anos das minhas contribuições, e -imagine-se!- até através do SNS que me leva a pensar que a minha longevidade está na iminência de ser abreviada.

Esta diabólica trama teve um novo capítulo quando há dias me dirigi ao Registo Civil para pedir o Cartão do Cidadão, pedido que aliás foi uma estreia para mim. Abro aqui um parêntesis para referir que a designação "Cartão do Cidadão" é uma designação feliz, tendo em conta que inicialmente se falava em Cartão Único. Felizmente alguém na Administração Central percebeu os riscos desta última e optou-se pela primeira.

O funcionário solicitou o meu BI para comparar os dados da base de dados com os que constavam no documento. Acompanhei o processo atentamente como é meu timbre e, no instante em que o funcionário arregalou os olhos, aproximou o rosto do ecrã e exclamou "Mau...!", a minha perspicácia levou-me a comentar imediatamente para com os meus botões "Oh diabo...! Tu queres ver que me vai suceder outra situação completamente fora do vulgar e que não faz sentido algum, como se a Administração Central fosse um polvo conspirativo que investe contra mim com todos os seus tentáculos?".

É certo que quando menos esperamos, descobrimos coisas sobre nós próprios que até então desconhecíamos mas, descobrir ali, pela mão daquele funcionário, que eu era afinal mais velho e casado, que os meus pais não são quem eu toda a vida pensei que fossem e que, contra todas as aparências, resido na Marinha Grande, foi para mim um choque tremendo.

De forma admirável, o funcionário não desarmou e refez uma e outra vez a pesquisa, usando critérios diferentes mas obtendo sempre o mesmo resultado. Perante a sua diligência e teimosa insistência, tentei poupar-lhe o esforço e explicar-lhe que não adiantaria pesquisar fosse de que forma fosse pois o que se passava é que alguém tinha feito asneira ao introduzir os dados no meu registo e me confundira com um cidadão que tinha, letra por letra, exactamente o mesmo nome que eu.

Olhando-me desconfiado, o funcionário insistiu uma última vez "Vou pesquisar noutro computador para ver o que acontece!", sendo novamente assolado por um sentimento de desilusão e de uma certa frustração, exclamando bem alto "Caramba! Aqui acontece o mesmo!".

Foi necessária uma mini-convenção de funcionários diante do computador, para finalmente decidirem alterar os dados do meu registo, corrigindo de acordo com o que constava no BI mas perguntando-me sempre, campo a campo, se os mesmos estavam correctos... não fosse o diabo tecê-las e obrigá-los a mais uma bateria de pesquisas.

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