Foguetes: o peido colectivo do povo

Ontem, enquanto perscrutávamos o céu nocturno através da lente de um telescópio que, entre constelações várias, permitiu uma visão inédita das crateras lunares e um fabuloso "pôr-da-lua" atrás de uma linha negra recortada pelos pinheiros no horizonte, distinguiram-se ao longe os inconfundíveis clarões provocados pela explosão de foguetes.

É-me difícil compreender como é que, perante a realidade que todos conhecemos, ainda haja quem acredite piamente que os acidentes são apenas ocorrências infelizes da exclusiva responsabilidade da inépcia alheia, achando-se eles donos de uma destreza a toda a prova que impede qualquer deslize.

Por coincidência, num momento de leitura, descobri a páginas tantas uma passagem dedicada a este tema.

Aqui fica esse trecho, dedicado a todos aqueles que, apesar de estarmos em época de incêndios e apesar de todos os avisos e proibições, persistem no seu comportamento irresponsável e criminoso:

As minhas férias, na sua parte mais agradável, foram preenchidas com longos passeios a pé nos arredores de Giestal. Eu tinha fome de verde, fome de ouvir os ruídos do campo e o vento a passar nas agulhas dos pinheiros. Queria cheirar a resina e o perfume áspero das ervas e flores cujos nomes nunca me foram ensinados ou já esqueci.

Como era de esperar, sendo Verão, estas actividades bucólicas foram seriamente perturbadas pelos foguetes, que abafaram consideravelmente os ruídos do campo e do vento a passar nas agulhas dos pinheiros. O Verão em Portugal é a estação dos foguetes e não venham dizer-me que se trata de uma tradição milenar do nosso povo porque é mentira. Há mil anos não havia sequer pólvora na Europa.

Os foguetes não são uma tradição do povo, os foguetes são os peidos colectivos do povo. E, o que é pior, são peidos incendiários. Enquanto estive em Giestal, houve cinco fogos florestais, dois deles provocados pelo foguetório.

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