Míscaros 2010 – Do entusiasmo frenético à solidariedade

E pronto! Chegou ao fim a 2ª edição do Míscaros, o Festival do Cogumelo, que, como referi no artigo anterior, ultrapassou largamente em termos qualitativos a sua edição de estreia. Mais tasquinhas e uma oferta diversificada encheram de visitantes entusiastas as ruas do Alcaide durante o último fim-de-semana.

Misturados na multidão, tivemos oportunidade de constatar a real medida desse mesmo entusiasmo, talvez medido na escala do frenesim, quando a dada altura, um grupo que seguia à nossa frente em busca da próxima tasca, se precipitou para uma porta aberta num dos lados da rua, com um dos indivíduos a dizer algo como “Vamos já a esta!”. Já com um pé para lá da porta, viram no entanto as suas intenções esbarrar na explicação da rapariga que abrira essa porta e que pretendia simplesmente entrar em casa.

Contudo, foi gratificante ver que no meio deste entusiasmo todo, não se perderam valores como a solidariedade e o espírito fraterno de entreajuda.

Verificámos isso quando, a dada altura, um indivíduo dono de um porte físico algo impressionante, sofreu uma queda não menos impressionante em plena praça principal do Alcaide, ficando estendido no chão numa posição que se poderia caracterizar como um misto de posição de lótus em ângulo invulgarmente aberto com uma chave de pernas digna da WWE mas em modo auto-infligido.

Obviamente poderemos aqui conjecturar sobre o que terá levado à queda mas a explicação que se me afigura como a mais provável foi que, no preciso momento em que o homem caminhava pela praça, o movimento de rotação da Terra se deteve por uma fracção de segundo, sendo que a força centrífuga fez o resto.

Seja como for, logo um grupo de pessoas, eu incluído, se precipitou para o ajudar a reerguer-se mas este não parecia inclinado a ajudar, preferindo olhar em volta de forma frenética como se procurasse algo… e afinal procurava mesmo. O seu apelo de “Esperem! Esperem! Os meus óculos voaram para aí!” fez com que toda a gente, eu incluído, começasse a descrever trajectórias erráticas em volta do homem, perscrutando atentamente o chão à procura dos óculos desaparecidos que, teimosamente, teimavam em manter-se desaparecidos.

A preocupação terminou finalmente quando um homem, que ficara a segurar as costas do desafortunado dono dos óculos, que ainda combalido permanecia sentado no chão, olhou para este e exclamou em tom indignado “Então mas você tem os óculos postos!” e, largando-lhe as costas bruscamente –“Você está a brincar comigo??”.

Foi quanto bastou para que o dono dos óculos se levantasse subitamente e, agradecendo a atenção dispensada, prosseguisse a sua caminhada, perdendo-se na festa e deixando para trás um pequeno grupo de pessoas, eu incluído, com um ar perfeitamente incrédulo.

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