Os preços das portagens na A23, de Abrantes até à Guarda

Este fim-de-semana constatei que já foram afixados os preços das portagens virtuais junto aos pórticos na A23, no troço entre a Gardunha e a Guarda. Entretanto, com a preciosa colaboração da Nelly, obtive também a lista de pórticos e respectivos custos até Abrantes. A surpresa não foi nada agradável, sobretudo se tivermos em conta os valores expostos.

Da Gardunha à Guarda

Quem da Gardunha conduza em direcção à Guarda irá deparar-se sucessivamente com os seguintes pórticos e custos:


Fundão Sul - 1,45 €

Caria - 1,55 €

Belmonte - 0,80 €

Guarda-Túnel do Barracão - 1,35 €


No meu caso específico, que me desloco 2 vezes por semana à Guarda, isso representaria um acréscimo de despesa na ordem dos 20,60 € por semana e dos 82,40 € por mês! Digo "representaria" porque não tenho a mínima intenção de circular pela A23 após a entrada em funcionamento das portagens.

São números que dão que pensar, sobretudo se os compararmos com aquilo que é praticado na A1, no troço entre Torres Novas e Alverca. Facilmente se conclui que a A23 parece ser uma auto-estrada de 1ª classe e a A1 uma reles auto-estrada de segunda classe, senão veja-se:


Alverca - Torres Novas: aprox. 90km autoestrada - 5,65 Eur - 0,06 €/km


Fundão - Guarda: aprox. 50km Autoestrada - 5,15 Eur - 0,10 € / km


Perante estes dados coloco duas hipóteses de justificação para a disparidade de valores:


1 - Afinal o sistema de cobrança de portagens da Scutvias não é tão automático quanto parece e, na central de controlo, há à frente de cada monitor um funcionário sinistro que vai anotando, num bloco de notas, os dados das viaturas que transpõem os pórticos sem o dispositivo electrónico de matrícula, sendo que os encargos salariais para com estes funcionários justificam estes valores cobrados.


2 - A Scutvias irá em breve substituir o actual piso da A23 por alcatrão vermelho e refazer as marcações das vias contratando para o efeito especialistas em aplicação de Talha Dourada.


Da Gardunha a Abrantes


Quem no entanto viaja para Sul a partir da Gardunha, depara-se com outro cenário não menos preocupante. Até Abrantes irá cruzar nada mais nada menos que 9 pórticos com os seguintes custos:


Soalheira - 1,20€
Lardosa - 1,10€
Castelo Branco centro/Hospital - 1,05€
Retaxo/Sarnadas - 0,90€
V.V. de Rodão - 1,45€
Fratel - 1,35€
Gavião - 1,25€
Mouriscas - 1,30€
Abrantes - 1,10€


O Fundão fica portanto à distância de 10,70 € de Abrantes! Quem como a Nelly tenha de fazer esta viagem nos dois sentidos uma vez por semana, terá uma despesa acrescida de 20,70 € por semana e de cerca de 83,90 por mês.




De Abrantes a Torres Novas


Não tenho ainda informação detalhada sobre a localização e os preços dos pórticos de portagem. O que posso avançar é que o custo agregado deste troço é de pouco mais de 4€. Se alguém tiver informações concretas, agradeço que as partilhe em comentário.



A CP oferece uma solução... no mínimo original


Curiosamente, numa altura em que a A23 se apresta a tornar-se uma solução de mobilidade muito pouco atractiva para a população, a CP decidiu introduzir uma modificação no serviço Intercidades no mínimo original, substituindo a tradicional composição por uma automotora dos anos 1970, à qual se fez um lifting para parecer mais nova.


Não há bar mas há máquinas de vending, menos casas de banho, mas também se espera que as pessoas aliviem as necessidades fisiológicas antes de subir à automotora para facilitar a deslocação da mesma, e o sistema de suspensão traz de volta uma sonoridade que até agora apenas residia nas recordações melancólicas de outras eras.


A justificação dada pela CP para a adopção desta medida foi de que a A23 provocou nos últimos anos o decréscimo dos passageiros na linha da Beira Baixa tornando-a pouco rentável. Portanto, num momento em que se apresenta uma oportunidade de ouro para angariar e fidelizar passageiros, a CP faz exactamente o oposto e desinveste. A justificação perante este evidente contra-senso foi de que, se numa primeira fase, a introdução das portagens iria de facto trazer de volta muitos passageiros, este número entraria inevitavelmente em declínio lá mais para a frente...


Entretanto, estou curioso para saber o que fizeram entretanto os deputados eleitos pelo círculo eleitoral de Castelo Branco que, no seu programa eleitoral, incluíram um parágrafo que garantia que iam procurar fazer com que a A23 tivesse preços de acordo com a realidade sócio-económica da região...


Próximo artigo: O que fazer na A23 para evitar as portagens




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