Plágios e plagiadores, a praga persistente

Se há coisa que me altera o sistema, mais ainda do que uma lata de feijão preto cujo prazo de validade expirou juntamente com o último Tiranossarus Rex, isso é sem dúvida... O PLÁGIO!
Ao longo dos últimos anos (agora que penso nisso, praticamente desde 1999), descobri várias vezes que textos ou fotografias da minha autoria (até sites!) haviam sido plagiados das mais variadas formas e por pessoas e entidades dos mais diversos quadrantes. Vejam alguns exemplos:

Os jornais!

Por exemplo, recordo-me de um artigo dedicado à Torre de Centum Cellas, publicado pelo jornal guardense Terras da Beira em Abril do ano 2000 e que era cópia do meu trabalho num site dedicado exclusivamente a esse mesmo monumento, que eu havia criado em 1998/99. Infelizmente só descobri isso alguns anos depois na versão antiga do site do jornal mas ainda assim enviei um e-mail, dirigido à redacção do jornal e ao seu director, manifestando a minha indignação. Sem resposta fiquei.

Por essa altura, também o jornal O Interior decidiu usar uma foto da minha autoria para ilustrar o artigo da semana numa rubrica dedicada ao património arqueológico. No artigo, dedicado à calçada romana do Tintinolho, acharam por bem copiar uma foto que eu publicara num portal que mantive durante muitos anos sobre arqueologia, o ArqueoBeira, e que hoje se encontra "em hibernação", dando-se ao luxo de recortar uma banda da foto de modo a excluir o logótipo de referência ao portal.

O design de um site!

Este portal arqueológico foi aliás bem fértil em plágios. Recordo-me de ter encontrado um site, dedicado creio eu à povoação de Loriga (ou algo parecido), que era cópia chapada do design que eu fizera para o ArqueoBeira. Ao consultar o código desse site, descobri que o autor do plágio nem sequer se dera ao trabalho de retirar algumas tags de código html que eu personalizara. Guardara as páginas do meu site e alterara visualmente o conteúdo. Ironicamente, o "artista" tinha disponbilizado um inquérito a perguntar às pessoas o que achavam do novo design do site. Fiquei fulo e enviei ao autor daquela brincadeira de mau gosto um e-mail de protesto, no qual usei várias vezes a palavra "processo". Desfez-se em mil desculpas e o site retornou ao design anterior em menos de 24h.

O ex-ministro!

Em 2005 ter um blogue de campanha era sinónimo de espírito inovador e não, como agora, uma obrigação. Nuno Morais Sarmento, ministro nos XV e XVI Governos Constitucionais, não fez por menos e criou um blogue chamado "Força Interior" para dele fazer um diário da sua campanha pelo Distrito de Castelo Branco, aquando das eleições legislativas de 2005.

A "postas" tantas, publicou um artigo intitulado "Regresso ao Fundão" no qual lamentava que uma gripe tenha afectado o seu programa e impedido de ir, entre outras localidades, à Aldeia de Joanes. Sempre partilhando os endereços dos sites das instituições que foi citando ao longo desse artigo, terminou o mesmo com a frase: "Deixo na fotografia deste post a imagem da Igreja de Aldeia de Joanes", um registo do que perdi,...". O artigo em questão era ilustrado com uma fotografia que eu tirara e colocara no meu portal no ano 2000, tendo-se abstido de fazer qualquer alusão ao mesmo. (Cliquem aqui para saber mais).
Voltando à actualidade, siga o plágio!
Há alguns dias atrás, fui alertado pelo Márcio para um e-mail que anda a circular sobre como evitar as portagens na A23 e que ele fez o favor de me reenviar. Ao abrir o anexo desse e-mail fiquei estupefacto ao verificar que alguém pura e simplesmente copiara INTEGRALMENTE os dois artigos que aqui publiquei sobre como evitar portagens na A23 entre Torres Novas e Castelo Branco e entre Guarda e Castelo Branco e colara tudo num documento de texto, tendo depois guardado o resultado em PDF, portanto um ficheiro cujo propósito é evitar a alteração do seu conteúdo, e tendo ainda o supremo desplante de assinar o seu nome em rodapé em todas as páginas.

Não é que este caso me afecte tanto como os anteriores, uma vez que o meu objectivo sempre foi o de fazer com que estas informações alcançassem o maior número possível de pessoas, de modo a lutar contra esta injusta imposição governamental mas, ver outra pessoa colher os louros por algo que não fez, é algo que me custa a digerir.

Poderão dizer que, ao serem copiadas, algumas das imagens mantiveram o nome deste blog. É verdade. Infelizmente, ao serem comprimidas durante o guardar do ficheiro, estas referências ficaram extremamente difíceis de ler e só alguém com a acuidade visual própria de um híbrido resultante do cruzamento entre uma ave de rapina e um piloto de aviação de combate as conseguirá detectar facilmente.

O que salta à vista é o nome do autor da infâmia: o Sr. João Mirrado. Não sei se o seu objectivo foi propriamente o de obter o reconhecimento pelo artigo ou se simplesmente foi o de ser elogiado pelo trabalho de paginação (que diga-se a verdade podia estar bem melhor). Também não consegui obter deste senhor qualquer resposta já que, tendo encontrado um suspeito no Facebook, enviei-lhe uma mensagem que ficou sem resposta. Quem cala consente ou não sabe o que é aquele número vermelho que está ali no canto superior esquerdo do Facebook?

Sobre este caso, faço minhas as palavras do Xamane, o nosso esmerado fotógrafo residente, que ao receber este e-mail respondeu ao remetente da seguinte forma:

"Com certeza não sabes mas este texto e mapas foram copiados, letra por letra do blog do David (http://dokatano.blogspot.com/), basicamente este João Mirrado fez um plágio integral.
Foi ao blog, fez cópia, fez paginação no formato PDF e difundiu pela NET com o nome dele.

A intenção não aparenta ser outra senão a de ajudar a difundir informação útil, daí o David não se ter importado, mas não deixa de ser caricato de no meio de tanto altruísmo do João Mirrado, este ter sentido a necessidade de se creditar por algo que não fez. Enfim, intelectualmente desonesto.
"

Ainda há esperança para o Mundo!

Felizmente, há quem ainda conheça o conceito de ética e não abdica dele quando confrontado com a perspectiva da utilidade do produto de outrém e já muitas vezes recebi pedidos de utilização de materiais da minha autoria. Tomem-se como exemplo os artigos sobre as alternativas às portagens. A sua utilização foi cedida com muito gosto, mediante pedido prévio, ao Jornal do Alto Alentejo.

Outro caso interessante e, devo dizer, gratificante foi o que ocorreu ontem quando descobri no site Portugal Romano alguns textos integrais ou excertos de textos e fotografias da minha autoria sobre sítios arqueológicos. Enviei imediatamente um e-mail a reclamar da situação e, pouco depois, o administrador do site respondeu-me com um pedido de desculpa, esclarecendo ainda que, tratando-se de um site colaborativo, os textos eram enviados por terceiros, sendo por isso difícil verificar a autoria dos mesmos.

Pouco depois, todas as referências desses textos e fotografias estavam rectificadas, sobrando deste caso apenas a excelente impressão com que fiquei do administrador do site.
Epílogo
O plágio causa-me profunda confusão. Custa-me perceber o recurso a um acto parasitário que se torna redutor para quem o pratica, ainda para mais quando, hoje em dia, é tão fácil descobrir a real autoria dos conteúdos em causa. Ao fim e ao cabo, o plagiador é como aquela pequena carraça que descobriu num canídeo andarilho a reconfortante perspectiva de poder engordar sem muito esforço... indiferente ao risco persistente de poder ser vítima de desparasitação.
Infelizmente há e continuará a haver, para mal dos pecados de quem com o seu esforço cria conteúdos, toda uma legião de plagiadores para quem a ética e as mais elementares regras morais perdem importância perante a necessidade de protagonismo.
Diz a minha mui estimada Ana Andrade que "fazer plágio é admitir que os outros pensam melhor do que nós". Não me ocorre acrescentar mais nada.

Foto (Morais Sarmento): Política Pura e Dura

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