Blatter vs Ronaldo e as prioridades dos portugueses



A polémica gerada pelas declarações de Joseph Blatter sobre Cristiano Ronaldo tem dominado a opinião pública portuguesa esta semana, substituindo até -imagine-se!- o desCarrilhamento do casamento de Bárbara Guimarães como tema de conversa nos espaços públicos privilegiados de tertúlia, desde o café da esquina ao salão da cabeleireira mais próximo.

Sinceramente, não percebo o porquê de tamanha indignação. É certo que, tendo o cargo que tem, Blatter deveria ter sido mais comedido na sua intervenção e não ter demonstrado preferência por um jogador em detrimento de outro. Contudo, não acho que tenha sido uma intervenção merecedora de tamanha onda de indignação e, aqui entre nós que ninguém nos lê, não só concordo com algumas das coisas que ele disse, como até achei piada à situação. Quem não gostaria de ter Messi como filho? Eu gostava e até estou a pensar em adoptá-lo, em prol de uma velhice tranquila e remediada. Se não conseguir, posso sempre tentar o Ronaldo, vá, para que não me acusem de traidor da Pátria. 




Voltando à polémica, no calor da indignação ninguém se apercebeu do descabido que foi o conteúdo da resposta de Ronaldo, ao dizer que aquelas declarações tinham sido uma mostra da consideração que a FIFA tem por si, pelo seu clube e pelo seu país. Eu pergunto: onde é que está implícita a referência ao Real Madrid e a Portugal, a não ser no ego do próprio Ronaldo? Pessoalmente, como português que sou, não me senti minimamente atingido. Joseph Blatter limitou-se a fazer a sua apreciação pessoal em relação a dois praticantes do jogo da bola. Ponto final.

O que é certo é que toda a gente, consciente ou inconscientemente, decidiu cavalgar a onda da indignação, através de reacções em forma de vídeos, textos, petições e espaços nas redes sociais exigindo a cabeça de Blatter. A celeuma tornou-se até matéria de Estado e não me admirava nada que, após o repúdio manifestado pelo Governo através do ministro da presidência Marques Guedes, o próximo passo venha a ser um implacável e contundente pedido de desculpas à FIFA através de Rui Machete.

Tenho de facto enormes dificuldades em compreender as prioridades dos meus concidadãos. Os angolanos dizem que não passamos de uns invejosos, que as nossas elites são corruptas e incompetentes e qual é o resultado? Como portugueses que se prezem e salvo um ou outro disparo acidental para o ar, não só ficamos quietinhos e calados como, ainda por cima, o nosso Governo pede-lhes desculpa. Agora quando se trata do CR7, alto e pára o baile! É o toque a rebate, é o pegar em forquilhas e archotes para salvar a Pátria e contra a FIFA marchar, marchar!


Adenda

Depois de ler há instantes a notícia do anúncio do Governo de que, pelo facto de o campeonato nacional ser "um evento de interesse público", teremos no próximo ano o regresso da transmissão televisiva de jogos de futebol em sinal aberto, o meu conspirómetro deu estranhamente sinal de alerta e associou a isto a intervenção de Marques Guedes. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra, pois não?


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