Da Rússia com pouco amor... ou o caso Alexandra





Depois da mediática decisão de um tribunal português em devolver à mãe biológica, de nacionalidade russa, uma criança, a Alexandra, entregue desde há 4 anos a uma família de acolhimento, ontem foi a vez de entrarem na retina de Portugal as imagens dessa mesma mulher, evidentemente desequilibrada e com indícios de consumo de uma boa dose de vodka, a agredir a sua recém-readquirida filha.

As imagens ficaram na retina dos portugueses, tanto da casa onde a criança está agora a morar como da atitude da mãe de Alexandra que, perante as câmaras, não se inibiu em "disciplinar" a filha e em acusar o casal português de ter a intenção de vender a criança para lhe retirarem órgãos ou de a venderem a uma casa de prostituição (isto porque afinal o pai "biológico" terá tentado vendê-la sim, para adopção). Tudo muito coerente e saudável, portanto.

Para além da reportagem, através do Blog "Da Rússia" de José Milhazes, chega-nos um trecho de uma notícia publicada sobre este assunto pelo jornal russo Komsomolskaya Pravda que refere:

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Tudo aparentemente estava bem, a família juntou-se, todos estavam felizes, a criança estava bem vestida e bonita. Mas... no chão estava uma garrafa de vodka quase vazia e existe suspeita de que a jovem mamã já tinha tido tempo de prová-la... A gabarolice do irmão André também tresandava a ressaca... Na mesa havia conservas com que os pais adoptivos portugueses tinham assustado a menina.. A mamã posava com agrado para as câmaras de vídeo, sendo o quadro decorado por um raminho de flores. A casa dos Zarubin tem o aspecto de uma decoração de cartão de um velho teatro para actores da capital".

Da opinião pública russa, parece ser dado maior destaque à questão de quase orgulho nacional que foi recuperar uma criança russa para a "Mãe Rússia" deixando de lado questões sobre o benefício que esta mudança pode trazer ou não à Alexandra. O próprio casal português tem sido retratado como quase subversivo e interesseiro, ficando no ar a expectativa sobre a anunciada entrevista ao pai afectivo que irá ser conduzida em Moscovo na próxima quinta-feira por um canal televisivo russo.

Todo este caso não deixa de levantar sérias interrogações sobre a eficácia dos nossos serviços de Segurança Social e dos nossos tribunais relativamente às suas capacidades em avaliar situações de risco para crianças.

Esta criança nasceu em Portugal, fala português, foi entregue à família de acolhimento porque a mãe vivia em situação precária, não tendo condições para cuidar da sua filha. Segundo alguns testemunhos, a mãe estaria mesmo a viver de prostituição nas ruas de Braga enquanto a filha dormia na rua. Foi por isso com estranheza que uma decisão de tribunal revogou a decisão inicial, numa atitude de puro e incompreensivel legalismo (terá havido pressão política nesse sentido?), tendo determinado que a Alexandra deveria ser devolvida à mãe biológica.

Alguém chegou a preocupar-se em saber se o bem-estar da criança estaria assegurado? Que instituições são as nossas afinal? 

Imagens: www.sic.pt
Petição pelo regresso de Alexandra: http://www.peticao.com.pt/alexandra

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